sexta-feira, 10 de junho de 2022

Ossada do menino Leandro Bossi é achada 30 anos após desaparecimento no PR




Trinta anos após o desaparecimento do menino Leandro Bossi na cidade de Guaratuba, no litoral paranaense, a ossada do garoto foi identificada pela polícia do estado. A informação foi dada pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná na tarde de hoje. Na noite desta sexta-feira (10), a família do garoto se disse "traída" e que o anúncio seria "uma vergonha".

Segundo o órgão, a ossada encontrada tem 99,9% de compatibilidade com o DNA da mãe do garoto. Um resultado que, segundo o secretário de segurança pública, tem "compatibilidade total" com a vítima.

Até o momento, as condições e o local no qual a ossada foi encontrada não foram informados. Segundo a delegada Patrícia Nobre, do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), esses detalhes só serão divulgados posteriormente.

Leandro Bossi desapareceu em 1992, durante um show na cidade de GuaratubaImagem:


"Essas respostas [sobre a ossada] têm que ser dadas posteriormente pela Polícia Científica juntamente com os levantamentos dos inquéritos do que aconteceu nesses 30 anos anteriores. Não posso falar por investigações que aconteceram antes de assumirmos a unidade", apontou.

A delegada também contou que a mãe de Leandro foi informada sobre a identificação antes da coletiva de imprensa. "Ela ficou bem emocionada, como não poderia deixar de ser, mas agradeceu, agradeceu bastante, porque mesmo 30 anos depois é bastante emotivo ter uma resposta", disse.

No ano passado, foram enviadas para a Polícia Federal em Brasília oito amostras ósseas que estavam na guarda da Polícia Científica relativas a crianças desaparecidas. Da mesma forma, também foi coletado o material genético de três mães, dentre elas, a mãe de Leandro Bossi. Agora tivemos resultado positivo, fazendo o confronto de uma das amostras, indicou a compatibilidade do material genético para a ossada de Leandro Bossi.Wagner Mesquita, secretário de segurança pública do Paraná

Leandro Bossi desapareceu em 15 de fevereiro de 1992, quando tinha sete anos, durante um show realizado na cidade de Guaratuba (PR). O inquérito policial sobre o desaparecimento dele nunca foi concluído.

No mesmo ano, no dia 6 de abril, desapareceu também o garoto Evandro Caetano, de 6 anos, no mesmo município.

Sobre o tempo necessário para que a identificação tenha sido possível, o perito responsável pelo caso, Marcelo Malaghini, alegou que a tecnologia disponível hoje é muito diferente do que se tinha à disposição há três décadas, quando foram feitas as primeiras análises de materiais genéticos que pudessem ajudar a esclarecer o caso.

"Naquela época não havia laboratórios de polícia no Brasil, hoje temos um potencial em análises genéticas, principalmente com esta possibilidade", disse o profissional, que também é coordenador do Laboratório de Genética Molecular Forense da Polícia Científica.

Atualmente, o Banco Genético nacional ainda detém cerca de 5 mil restos mortais não identificados. Cerca de 6 mil pessoas já forneceram amostras de DNA visando a identificação de possíveis familiares.

No Paraná, segundo o governo do estado, cerca de 900 casos de desaparecimento de crianças foram registrados nos últimos quatro anos. 26 seguem desaparecidas.

Um ano depois do desaparecimento de Leandro, em janeiro de 1993, uma ossada, uma cueca infantil e chinelos foram encontrados pela polícia do Paraná. Os pais do menino chegaram a identificar os objetos como sendo do filho, mas uma perícia descartou a possibilidade.

A Polícia Civil do Paraná não informou se os restos mortais analisados atualmente eram os mesmos deste período.

Uma das polêmicas do desaparecimento do menino ocorreu no ano de 1996, quando uma criança encontrada em Itacoatiara (AM) afirmou que era o menino desaparecido quatro anos antes em Guaratuba. Na ocasião, o pai de Leandro, João Bossi, reconheceu o garoto e chegou a dizer que "caso não seja meu filho, vou adotá-lo".

A criança chegou a ser levada até o Paraná com ajuda da Polícia Militar para se encontrar com os pais de Leandro, mas, meses depois, um exame feito por um laboratório apontou que o DNA dele era "100% diferente" do dos pais do menino. Com esse resultado.

O desaparecimento de Leandro Bossi, que era filho de um pescador e uma diarista, ocorreu pouco antes do sumiço de Evandro Ramos Caetano, menino de 6 anos que sumiu no trajeto entre a casa dele e a escola. Após alguns dias do desaparecimento, ao contrário do caso de Leandro, o corpo de Evandro foi encontrado em um matagal de Guaratuba, com órgãos arrancados e pés e mãos cortados.

Na época, um grupo foi preso acusado de sequestrar Evandro para praticar "bruxaria". Entre essas pessoas, estavam Celina Abagge, esposa do prefeito de Guaratuba, e a filha do casal, Beatriz Abagge. O caso se arrastou por anos.

No primeiro julgamento, realizado em 1998, Beatriz e Celina foram absolvidas. O Ministério Público, no entanto, recorreu da decisão e conseguiu um novo julgamento, mas apenas Beatriz foi julgada novamente. Para a mãe, o crime prescreveu, porque ela já tinha 70 anos.

Em 2016, Beatriz conseguiu o perdão da pena pelo Tribunal de Justiça do Paraná — mesmo tendo sido condenada a 21 anos de prisão.

No ano de 2021, após o caso envolvendo a morte de Evandro e o desaparecimento de Leandro em Guaratuba ganhar fama por causa de um podcast do jornalista Ivan Mizanzuk, o governo do Paraná se responsabilizou em entregar um pedido de desculpas formal à família do garoto pela falta de conclusão do caso, cujo culpado não foi encontrado.

O governo paranaense também identificou possíveis erros no processo e na investigação do crime. A apuração mais aprofundada, com 600 páginas, foi finalizada em dezembro de 2021.

POLÍCIA CIVIL/DIVULGAÇÃO 


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