terça-feira, 7 de maio de 2019

Água consumida pelos paranaenses está contaminada com agrotóxicos



Uma mistura de diferentes agrotóxicos está presente na água que sai da torneira de mais de 90% das cidades do Paraná. A combinação foi detectada em coletas e análises realizadas por empresas de abastecimento do estado que integram relatórios do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) do Ministério da saúde

Em 326 dos 399 municípios paranaenses foram detectadas as 27 variedades de pesticidas testadas, incluindo a capital Curitiba. E em 28 cidades pelo menos um agrotóxico estava acima do limite permitido, casos de Araucária, Guaratuba, Paranaguá e São José dos Pinhais, por exemplo. O Paraná só não apresenta um cenário pior que São Paulo, onde 504 cidades apresentaram todos os agrotóxicos analisados. Na proporção, entretanto, o caso paranaense é mais substancial.

Por lei, as companhias de abastecimento de todo o país são obrigadas a verificar periodicamente a presença de 27 tipos de pesticidas na água que circula na rede de distribuição – no Rio Grande do Sul são testados 46 agrotóxicos. Entre os pesticidas estão 16 que são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como altamente ou extremamente tóxicos. Os 11 restantes estão associados ao desenvolvimento de problemas de saúde, como câncer, disfunção endócrina e malformação fetal, de acordo com agências ambientais e de saúde dos Estados Unidos e da União Europeia.

Nove pesticidas da lista são proibidos no Brasil, mas mesmo assim constam nos dados do Sisagua. A situação seria considerada mais crítica caso os parâmetros usados fossem os mesmos da União Europeia, que recentemente atualizou a regulação do uso de agrotóxicos. Além dos 11 já proibidos por aqui, outros sete são barrados na Europa.

Entre os permitidos, o limite de contaminação é abissal. Enquanto por lá o máximo permitido de substâncias é de 0,1 micrograma por litro, no Brasil há defensivos que podem aparecer na água a 500 microgramas por litro. É o caso do glifosato, o agrotóxico mais vendido no país, e que está em processo de reavaliação toxicológica pela Anvisa – o parecer atual é de que não há evidências de que a substância cause câncer.

Pelos dados do Sisagua, apesar da detecção de 27 substâncias diferentes em Curitiba, todas estão dentro dos limites brasileiros. Se os critérios europeus fossem usados no Brasil, 19 agrotóxicos presentes na água da capital paranaense estariam acima do nível permitido.

Coquetel de agrotóxicos
O Paraná é o segundo estado brasileiro com mais cidades que registraram a presença de 27 tipos diferentes de pesticidas na água, perdendo somente para São Paulo.

Agrotóxicos detectados


Infográfico: Gazeta do Povo
Municípios sem nenhum agrotóxico detectado
Cor amarela mais clara no mapa (?)

1 Abatiá
2 Alvadora do Sul
3 Andirá
4 Ibiporã
5 Jussara
6 Kaloré
7 Nova Santa Bárbara
8 Peabiru
9 Pitangueiras
10 Santa Isabel do Ivaí

Concentração na água
Infográfico: 
Municípios com pelo menos 1 agrotóxico acima do limite brasileiro
Cor preta no mapa (?)

1 Araruna
2 Araucária
3 Astorga
4 Bocaiúva do Sul
5 Bom Jesus do Sul
6 Campina Grande do Sul
7 Campo Magro
8 Clevelândia
9 Corumbataí do Sul
10 Fernandes Pinheiro
11 Floraí
12 Flórida
13 Guaratuba
14 Honório Serpa
15 Jaguariaíva
16 Leópolis
17 Mallet
18 Munhoz de Melo
19 Paranaguá
20 Pinhão
21 Pranchita
22 Presidente Castelo Branco
23 Salgado Filho
24 São José dos Pinhais
25 São Miguel do Iguaçu
26 Serranópolis do Iguaçu
27Tuneiras do Oeste
28 Ubiratã
Fonte: Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) – Ministério da Saúde.

“Esses dados do Sisagua mostram que os limites de segurança estão sendo extrapolados de longe. E os métodos que temos hoje para retirar os agrotóxicos da água não são eficientes. Isso significa que precisamos repensar a forma de trabalhar para limpar a água contaminada”, analisa o engenheiro agrônomo e membro da Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Leonardo Melgarejo.

Os dados do Sisagua, entretanto, não são unanimidade, especialmente quanto à metodologia aplicada e à ausência de um padrão de coleta e análise entre as companhias de abastecimento de todo o Brasil, sejam elas públicas ou privadas.

“Os dados do Sisagua não são confiáveis. Não há um controle sobre a metodologia usada pelos órgãos que coletam e analisam as amostras”, comenta o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro do Observatório do Uso de Agrotóxicos e Consequência para a Saúde Humana e Ambiental no Paraná, Victor Alvarez. “Precisaríamos de um controle adequado e sistemático de coleta de amostras levando em conta o contexto, os períodos de maior uso de agrotóxicos e as regiões mais sensíveis”, complementa.

A Sanepar também contesta o sistema do Ministério da Saúde, especialmente a inserção de dados no Sisagua. “No momento de registrar os resultados de suas análises, não há no cadastro do Sisagua a opção de informar a não detecção do princípio ativo do composto. O Sistema de Informação aceita apenas o registro como ‘no limite’ em vez de ‘ausente”. Desta forma, fica registrada a presença de agrotóxico na água, mesmo que não tenha sido detectada, distorcendo a informação”, comentou a companhia em nota enviada à reportagem. Gazeta do Paraná

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