Adilson de Andrade Ganzert, 41 anos, curitibano, está se preparando para entrar nos combates que já duram quase sete meses. Ganzert aguarda a liberação do Comando Ucraniano para auxiliar em trechos mais perigosos e, enquanto isso, faz treinamentos militares em cidades ucranianas.
Para chegar no Leste Europeu com o objetivo de lutar diante dos russos, Ganzert recrutou-se na Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, uma força paramilitar formada por 20 mil estrangeiros. Essa unidade foi anunciada em um comunicado do ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, em 27 de fevereiro de 2022
Ao tomar conhecimento do grupo e cansado de ver imagens da guerra, o curitibano resolveu ir para a Ucrânia em agosto. “Servi em 1999 no bairro Pinheirinho, e gosto do militarismo. Trabalho na segurança privada, e quando o presidente Volodymyr Zelensky falou que pessoas do bem seriam bem-vindas ao país, decidi ajudar. Fiz uma campanha para arrecadar R$1 por pessoa para tentar custear a passagem, mas fui xingado nas redes sociais. Fui chamado de oportunista e não consegui nada. Um grupo de amigos de São Paulo fez a vaquinha e conseguimos somente passagem de ida”, brincou Adilson.
Para chegar a ser um combatente de guerra, Ganzert entrou em contato via Telegram com a Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia. Mandou vídeos e relatou que tinha interesse em ser voluntário. No entanto, até se aproximar na região da fronteira ucraniana, o curitibano quase foi extraditado na Suíça, teve extravio de mala, machucou o pé, e até hoje sofre com brincadeiras que está acima do peso.
Sobre o peso tudo bem. Sou um pouco gordinho, mas já perdi quase uma tonelada aqui na Ucrânia. Tinha coisa que não comia no Brasil, e aqui não posso negar. O ambiente é de guerra e não de passeio com a família. Chegar aqui já é uma vitória. Não tenho pressa de entrar na linha de frente”, disse o curitibano
Sirene do terror
Dentro da Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, Ganzert passou por diversas cidades, onde segue treinando. Aliás, o curitibano não pode revelar em qual município está, pois isso é considerado uma infração de guerra. “Posso dizer que estou bem e treinando muito. Nos próximos dias, farei exame de saúde e assinarei um contrato para seguir para um batalhão. Não estou com pressa. Ajudo pessoas nas ruas e elas querem nos abraçar. Isso é recompensador demais. Não ando armado, pois estou em um processo de recrutamento”, reforçou o soldado.
Apesar de estar em uma cidade que tenta seguir normalmente a rotina e que foi pouco bombardeada na guerra, as sirenes de alerta costumam provocar medo e temor. “Na cidade em que estou é vida normal, mas toca o alarme. Aqui é Oeste da Ucrânia, mas na cabeça dos russos, o comando de inteligência está longe de Kiev, e quando toca, temos 15 minutos para se esconder. Parece filme catastrófico! É assustador”, definiu Ganzert.
Explosões, mortes de amigos e mulheres na luta
Em um ambiente de guerra, histórias de pessoas que perderam a vida são comuns. Ganzert ouviu que um colombiano acabou pisando em uma mina terrestre e não resistiu. “Escutamos de todos os lados os registros de perdas. Espero que até o fim do ano a guerra acabe. As mulheres assumiram muitas funções de trabalho, pois os maridos foram lutar. Sinto saudades de muita coisa, especialmente da família e dos amigos. Estou bem aqui, estou tendo a companhia de pessoas de vários países que diminuem a solidão ou a saudade”, confidenciou Ganzert.
Até o momento, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, André Luis Hack Bahi, de 44 anos de idade, e Douglas Rodrigues Búrigo, 40 anos, ambos do Rio Grande do Sul, são os dois brasileiros mortos na Guerra da Ucrânia. A dupla fazia parte também da Legião Internacional.
Família ansiosa pelo retorno
Eu gostaria que ele não fosse para a linha de frente, pois ali é o perigo. Eu queria que ele voltasse já! ”, definiu a esposa. Foto: Tribuna do Paraná/
A família de Ganzert mora em Piraquara e aguarda com ansiedade esse retorno. Eles esperam que o curitibano não entre na linha de frente. Alessandra Francisco Pereira, esposa de Ganzert, ficou com a responsabilidade de cuidar da casa e dos quatro filhos. “A atitude dele teve uma mistura de doidera com muita coragem. Quando avisou que estava indo, falei que ele estava maluco. Falamos diariamente e tento ser forte. Temos filhos, sendo um deles autista, e o sentimento de medo ou temor é normal. Eu gostaria que ele não fosse para a linha de frente, pois ali é o perigo. Eu queria que ele voltasse já! ”, definiu a esposa.
Tribuna do Paraná
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